Cristina Buarque, Referência do Samba e Irmã de Chico Buarque, Morre aos 74 Anos

Cristina Buarque, Referência do Samba e Irmã de Chico Buarque, Morre aos 74 Anos

O adeus a Cristina Buarque: a guardiã discreta do samba

O cenário musical brasileiro ficou mais silencioso com a morte de Cristina Buarque de Holanda, irmã do icônico Chico Buarque, neste 20 de abril de 2025. Ela tinha 74 anos e lutava contra o câncer. Figura essencial nas rodas de samba cariocas, Cristina construiu, ao longo das décadas, uma trajetória de respeito, paixão e resistência, mesmo mantendo distância dos holofotes que cercaram seus irmãos famosos.

Cristina nasceu em uma família que respira arte e cultura: filha do historiador Sérgio Buarque de Holanda e irmã não só de Chico, mas também de Miúcha e Ana de Hollanda. Sem tentar copiar trilhas, ela seguiu seu próprio ritmo. Desde jovem, mergulhou no universo do samba e se tornou referência para quem valoriza o gênero em sua essência genuína. Quem frequenta as tardes de samba em quintais e botequins sabe: Cristina era presença constante, mas nunca a típica estrela central. Sua voz e conhecimento despertavam respeito, sem precisar do brilho fácil da TV.

Sua ligação com o samba tradicional não foi apenas artística, mas também de quem entende a importância da memória e da coletividade. Cristina não só cantava, como também recuperava composições esquecidas, valorizava sambistas antigos e enchia de sentido as rodas, atraindo músicos e admiradores. Nos anos 1970 e 1980, ela foi peça-chave na revitalização dos chorinhos e sambas lentos perdidos no tempo, ensinando novas gerações. Se hoje muita gente de fôlego novo conhece Candeia, Cartola ou Nelson Cavaquinho, parte desse resgate passa diretamente pelas mãos e pelo ouvido atento de Cristina.

Legado, família e resistência longe dos holofotes

Legado, família e resistência longe dos holofotes

Apesar do nome de peso, Cristina nunca correu atrás da fama ou contratos milionários. Preferia a leveza das rodas em Paquetá (onde viveu seus últimos anos), pequenos clubes do subúrbio e encontros de sábado ao pôr do sol. Seu disco mais lembrado, “Cristina Buarque de Holanda canta Jacó do Bandolim”, é exemplo do seu carinho pelo lado b da música brasileira.

Na madrugada do anúncio de sua morte, foi o filho, Zeca Ferreira, quem deu a notícia pelas redes sociais. Em um texto breve, mas intenso, ele chamou a mãe de “farol” — definição que faz sentido para quem conheceu a maneira generosa e afetiva com que Cristina vivia e inspirava quem estava ao redor. E não só nas palavras do filho: artistas como Paulinho da Viola, Teresa Cristina e integrantes do Fundo de Quintal expressaram carinho pela sambista, sublinhando sua importância única no cenário cultural.

Chico Buarque, por sua vez, falou sobre a irmã ressaltando a delicadeza e a força silenciosa dela, sempre disposta a fortalecer quem estivesse ao lado, seja dentro da família ou entre outros músicos. Isso reforça como o legado dos Buarque de Holanda vai além do que aparece nas capas de jornal ou nos shows lotados: ele está também nesse trabalho de formiguinha, nos detalhes da tradição e nos encontros que renovam a cultura diariamente.

  • Cristina Buarque foi homenageada diversas vezes por escolas de samba e projetos que valorizam a velha guarda.
  • Em vida, preferiu viver boa parte do tempo em Paquetá, mantendo contato próximo com músicos locais e promovendo encontros tradicionais.
  • Sua discografia, embora discreta, é considerada referência no resgate de obras históricas do samba e da música brasileira.

Guardando a memória musical do Brasil sem se render aos aplausos fáceis, Cristina Buarque se despediu deixando um espaço que ninguém consegue preencher do mesmo jeito. Para quem gosta e vive o samba, ela segue sendo inspiração, mesmo na sua eterna aversão ao estrelato.

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