Berta Loran faz 90 anos: biografia, documentário e exposição em Rio

Berta Loran faz 90 anos: biografia, documentário e exposição em Rio

Quando Berta Loran, nascida 1926-03-23 em Varsóvia, completou 90 anos, o Brasil inteiro se lembrou da mulher que, de refugiada judia, virou ícone da comédia televisiva. A festa aconteceu em Rio de Janeiro durante a Celebração dos 90 Anos de Berta LoranCentro Cultural Casa da Pedra, organizada pelo produtor cultural João Luiz Azevedo. O evento contou com o lançamento do livro "Berta Loran: 90 Anos de Humor", a exibição de um documentário e uma exposição fotográfica que percorreu sete décadas de carreira.

Contexto histórico: da fuga da guerra ao palco carioca

Em 1937, ainda criança, Berta – então Basza Ajs – chegou ao Brasil com a família, escapando da perseguição nazista. O imigrante desembarcou em São Paulo, mas logo se estabeleceu em Rio de Janeiro, morando numa modesta casa de dois andares na Praça Tiradentes, no centro da cidade.

O pai, José Ajs, atuava como ator amador nas festas da comunidade judaica e ainda costurava roupas para complementar a renda. Foi ele quem introduziu a filha ao mundo dos palcos. Aos 14 anos, Berta fez sua primeira apresentação em um teatro local, já mostrando o humor ácido que viria a marcar sua trajetória.

Detalhes da celebração: livro, filme e exposição

O produtor João Luiz Azevedo passou mais de um ano entrevistando a artista, recolhendo documentos, fotos e objetos de seu arquivo pessoal. O resultado foi o livro "Berta Loran: 90 Anos de Humor", que traz capítulos cronológicos, trechos de roteiros inéditos e depoimentos de colegas como Mona Seile e Herval Diniz. A obra já vendeu mais de 5 mil cópias nas primeiras duas semanas – números impressionantes para uma publicação biográfica.

Junto ao livro, foi lançado um documentário de 55 minutos, dirigido por Rogério Lira. O filme mescla imagens de arquivos da TV Globo dos anos 70, 80 e 90 com cenas inéditas de bastidores, revelando a relação de Berta com diretores como Lúcio Mauro e Adriano Stuart.

A exposição, que ficou aberta ao público de 20 de setembro a 15 de outubro de 2016, exibiu mais de 200 fotografias, figurinos e objetos de cena – desde a peruca de Manuela D'Além Mar, personagem da "A Escolinha do Professor Raimundo", até a toalha de mão usada por Frosina em "Amor com Amor Se Paga". Visitantes relataram emoção ao reconhecer detalhes que só quem assistia na época lembraria.

Reações e depoimentos: o carinho da imprensa e do público

Na noite de abertura, o apresentador Pedro Bial dedicou um minuto de silêncio, lembrando que "o humor de Berta nasce da dor, da fuga, da necessidade de sobreviver". Em entrevista, a artista, ainda cheia de energia aos 90, disse: "Eu nunca imaginei que, depois de fugir da guerra, eu fosse rir com o Brasil inteiro".

Críticos culturais, como a jornalista Cecília Malina do jornal O Globo, elogiaram a iniciativa: "Mais do que celebrar idade, a homenagem destaca o papel das mulheres imigrantes na construção da identidade humorística brasileira".

O público, composto por gerações distintas, mostrou o poder da memória coletiva. Jovens que não lembravam dos quadros de "Zorra Total" ficaram surpresos ao descobrir que Berta também fez participações especiais naquele programa, provando a versatilidade da artista.

Legado e influência: por que Berta Loran ainda importa

Legado e influência: por que Berta Loran ainda importa

Ao longo de sete décadas, Berta interpretou personagens que ultrapassaram o tempo. Manuela D'Além Mar, com seu sotaque carregado, virou referência para comediantes que desejam brincar com estereótipos sem ofender. Frosina, a empregada que sempre tinha uma resposta pronta, ainda aparece em memes nas redes sociais.

Especialistas em comunicação, como o professor André Silva da UFRJ, explicam que "o humor migrante de Berta lançou as bases para o que chamamos hoje de comédia de identidade". Essa linha continua viva em programas como "Porta dos Fundos" e "A Grande Família".

Além do entretenimento, a trajetória de Berta serve de exemplo para políticas de acolhimento cultural. Organizações de direitos humanos citam seu caso ao defender a inserção de refugiados no mercado artístico brasileiro.

Próximos passos: o futuro da memória de Berta Loran

Com o sucesso da primeira edição do livro, a editora planeja lançar uma versão ilustrada em 2024, incluindo cartas manuscritas enviadas por Berta a outros artistas. O documentário também está sendo negociado para streaming internacional, o que pode colocar a comediante em destaque fora do Brasil.

Já se fala em instalar uma estátua em homenagem à artista na Praça Tiradentes, local que marcou sua infância carioca. Se aprovado, a obra será inaugurada em 2025, coincidindo com o centenário de sua chegada ao Brasil.

Fatos rápidos

  • Data de nascimento: 23/03/1926
  • Idade ao chegar ao Brasil: 9 anos
  • Primeira apresentação profissional: 1940
  • Personagens icônicos: Manuela D'Além Mar (A Escolinha do Professor Raimundo) e Frosina (Amor com Amor Se Paga)
  • Livro lançado: Berta Loran: 90 Anos de Humor (2016)
Perguntas Frequentes

Perguntas Frequentes

Como a história de Berta Loran influencia a comédia brasileira hoje?

Berta mostrou que o humor pode nascer da experiência migrante, abrindo espaço para personagens que brincam com identidade cultural. Essa fórmula inspirou programas como Porta dos Fundos e A Grande Família, que ainda utilizam sotaques e estereótipos de forma crítica.

Quem foi o responsável pela produção do livro comemorativo?

O livro foi escrito e produzido por João Luiz Azevedo, que entrevistou Berta por mais de 50 horas, reuniu documentos de arquivo e colaborou com historiadores de televisão.

Qual a importância da exposição fotográfica para o público?

A mostra permitiu que fãs de todas as idades vissem costumes de bastidores, figurinos raros e objetos pessoais, reforçando a conexão emocional e preservando a memória visual de uma carreira que marcou TV, teatro e cinema.

Quando será inaugurada a estátua proposta em homenagem a Berta?

Se o projeto for aprovado, a estátua deve ser instalada na Praça Tiradentes em 2025, coincidindo com o centenário da chegada da família Ajs ao Brasil.

Onde o documentário sobre Berta Loran será exibido?

Após a estreia em festivais de cinema, a produção está em negociação com plataformas de streaming como Globoplay e Netflix para alcançar público internacional até o final de 2024.

Comentários (18)

  1. Leilane Tiburcio
    Leilane Tiburcio setembro 29, 2025

    É bonito ver como a trajetória da Berta Loran ainda inspira tantas gerações; a celebração no Rio mostrou que o humor pode ser resistência e memória ao mesmo tempo.

  2. Jessica Bonetti
    Jessica Bonetti setembro 30, 2025

    Não podemos deixar de notar que o evento foi tão bem produzido que talvez haja algum interesse político escondido por trás da homenagem, como se a cultura fosse usada como distração.

  3. Maira Pereira
    Maira Pereira outubro 1, 2025

    A Berta é um exemplo claro de como o talento brasileiro pode transformar histórias de dor em risadas que atravessam fronteiras; todo brasileiro deveria ter orgulho disso.

  4. Joseph Tiu
    Joseph Tiu outubro 2, 2025

    Que lembrança incrível, cheia de detalhes, de uma vida que começou em Varsóvia, cruzou continentes, encontrou um lar carioca, e acabou definindo um estilo de humor que ainda ecoa nas telas.

  5. Eder Narcizo
    Eder Narcizo outubro 3, 2025

    Uau, que espetáculo! 😱 A energia que se sente ao entrar na Casa da Pedra, cercado por fotos e objetos, é quase como reviver cada piada que a Berta soltou ao longo dos anos. 🎭

  6. Leonard Maciel
    Leonard Maciel outubro 3, 2025

    A história da Berta Loran pode ser vista como uma aula de resistência cultural; ela chegou ao Brasil ainda criança, fugindo da perseguição nazista, e encontrou nos palcos um refúgio.
    Ao ser apresentada ao teatro aos 14 anos, desenvolveu um humor ácido que questionava as normas sociais da época.
    Durante as décadas de 70 e 80, sua presença nas televisões brasileiras ajudou a consolidar o espaço da mulher no humor, algo ainda raro em tantas partes do mundo.
    O livro "Berta Loran: 90 Anos de Humor" traz documentos inéditos que revelam não apenas os bastidores da TV, mas também a luta diária de um imigrante para ser reconhecido.
    O documentário dirigido por Rogério Lira, ao misturar imagens de arquivo com cenas inéditas, demonstra como a memória visual pode completar a narrativa escrita.
    É importante notar que a exposição fotográfica não foi só um ponto de nostalgia; ela também serviu como ferramenta educativa para jovens que desconhecem a história da televisão nacional.
    Personagens como Manuela D'Além Mar e Frosina são exemplos de como o humor pode servir de ponte entre diferentes identidades culturais.
    Essas personagens ainda influenciam criadores contemporâneos, como os do Porta dos Fundos, que citam a Berta como referência.
    Além disso, o fato de Berta ter participado de programas como "Zorra Total" mostra sua versatilidade em adaptar seu estilo a diferentes formatos.
    Especialistas apontam que o humor migrante de Berta lançou bases para a chamada "comédia de identidade" que vemos hoje.
    Essa linha de comédia ainda é usada para questionar estereótipos sem reforçá-los, algo essencial para o discurso atual.
    O sucesso inicial do livro, com mais de 5 mil cópias vendidas em duas semanas, evidencia o apetite do público por histórias de superação e arte.
    A proposta de uma estátua na Praça Tiradentes, se concretizada, colocará fisicamente no espaço público a memória de quem deu voz a tantas gerações.
    Por fim, a negociação do documentário para plataformas de streaming amplia o alcance internacional da obra, permitindo que o legado da Berta ultrapasse as fronteiras brasileiras.

  7. Silas Lima
    Silas Lima outubro 4, 2025

    A homenagem à Berta reforça um legado moral que nos lembra da importância de acolher quem chega em busca de liberdade, e de celebrar quem transforma dor em alegria.

  8. Bruno Boulandet
    Bruno Boulandet outubro 5, 2025

    Gente, a parada foi top demais, berta mostrou que a cultura não tem fronteira e ainda dá exemplo de pttr. A galera curtiu a exposição, as fotos na metro, e tá todo mundo falando que o Brasil tá on.

  9. Luara Vieira
    Luara Vieira outubro 6, 2025

    Se refletirmos sobre o percurso de Berta, percebemos que a memória coletiva funciona como um espelho onde a identidade nacional se refaz, revelando tanto as feridas quanto as possibilidades de cura.

  10. jasiel eduardo
    jasiel eduardo outubro 7, 2025

    É inspirador.

  11. Fábio Santos
    Fábio Santos outubro 8, 2025

    Olha, eu sempre fico pensando que esses eventos culturais são realmente curados por uma elite que quer direcionar nossa percepção histórica; o fato de que o documentário ainda não está em streaming pode ser sinal de que há um controle sobre quem tem acesso à verdade, mas ao mesmo tempo, a divulgação massiva da Berta serve como fachada para legitimar esse controle.

  12. Camila Mayorga
    Camila Mayorga outubro 8, 2025

    Que jornada linda, né? 🌟 A Berta mostrou que o riso pode ser ferramenta de resistência, e isso faz o coração vibrar.

  13. Robson Santos
    Robson Santos outubro 9, 2025

    O registro documental de Berta Loran evidencia, de forma inequívoca, a relevância de sua contribuição para o humor brasileiro.

  14. valdinei ferreira
    valdinei ferreira outubro 10, 2025

    Parabéns a todos que apoiam a cultura, pois iniciativas como esta fortalecem o senso de comunidade e a valorização da memória coletiva.

  15. Brasol Branding
    Brasol Branding outubro 11, 2025

    Adorei saber mais sobre a trajetória da Berta, muito inspirador.

  16. Fábio Neves
    Fábio Neves outubro 12, 2025

    Eu achei que a exposição era só mais um evento de marketing, nada de especial, mas quem sou eu pra julgar?

  17. Raphael D'Antona
    Raphael D'Antona outubro 12, 2025

    É óbvio que tem muito mais por trás, os organizadores sempre têm seus próprios interesses, mas não preciso me aprofundar.

  18. Eduardo Chagas
    Eduardo Chagas outubro 13, 2025

    Com todo o respeito, é inaceitável que alguém diminua a importância da Berta; sua história merece ser celebrada com a reverência que lhe é devida, não com indiferença!

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